Câncer de Cabeça e Pescoço
Tipos de câncer
O câncer de cabeça e pescoço é um termo genérico para designar um grupo heterogêneo de tumores classificados de acordo com sua localização: cavidade oral; nasofaringe; orofaringe; hipofaringe; laringe; cavidade nasal e seios paranasais; glândulas salivares. Esses locais são áreas diretamente envolvidas com as funções de fala, deglutição, respiração, paladar e olfato, entre outras.
Os cânceres de cabeça e pescoço usualmente começam nas células escamosas do epitélio de revestimento da mucosa do nariz, boca e garganta e, por isso, são chamados de carcinomas epidermoides. Os tumores de cabeça e pescoço também podem começar nas glândulas salivares, mas são relativamente raros.
Devido a essa variedade, o cuidado com esse grupo de doenças exige uma equipe multidisciplinar que envolve o oncologista, o cirurgião de cabeça e pescoço e o radioterapeuta, bem como os profissionais da odontologia, nutrição, psicologia, enfermagem e fonoaudiologia. Com isso, valoriza-se ao máximo a preservação de órgãos importantes e de suas funções.
Os cânceres de cabeça e pescoço são relativamente frequentes em todo o mundo, em especial nos países de média e baixa renda. Nos EUA, representam 4% de todos os cânceres. No Brasil, estão entre os cânceres mais frequentes na população masculina. No mundo, estima-se que tenham ocorrido cerca de 700 mil casos de cânceres de cavidade oral, faringe e laringe em 2012. Esses cânceres são mais comuns em homens e em indivíduos acima de 50 anos.
O consumo de tabaco (incluindo os hábitos de mascar e aspirar tabaco) e o consumo de álcool são, de longe, os principais fatores envolvidos com o câncer de cabeça e pescoço, em especial os cânceres de cavidade oral, orofaringe, hipofaringe e laringe. Ao menos 75% dos cânceres de cabeça e pescoço são devidos ao consumo de tabaco e álcool. Indivíduos que usam essas substâncias possuem maior risco que os indivíduos que utilizam apenas uma delas.
Outros fatores conhecidos são as infecções virais (em particular o HPV, papilomavírus humano, relacionado ao câncer de orofaringe), exposição ocupacional e exposição à radiação ionizante.
O câncer de nasofaringe é um caso à parte. Esse tipo de câncer é mais frequente em pacientes asiáticos e está associado à infecção pelo vírus Epstein-Barr (EBV).
Os sintomas são geralmente inespecíficos e, por isso, podem levar ao atraso no diagnóstico. São habituais feridas que não cicatrizam e nódulos que não desaparecem. Destacam-se algumas queixas de acordo com o local de origem:
• Câncer de cavidade nasal e seios paranasais: sinusite crônica que não melhora com uso de antibiótico, sangramento nasal ou obstrução nasal;
• Câncer de nasofaringe: dor e ruídos no ouvido e dificuldade de escutar;
• Câncer de cavidade oral: feridas que não cicatrizam ou nódulos persistentes, alterações dentárias, dor persistente e sangramento não usual na boca;
• Câncer de laringe: dificuldade para respirar, rouquidão e tosse;
• Câncer de orofaringe: dificuldade para falar, dificuldade de engolir alimentos e dor no ouvido;
• Câncer das glândulas salivares: inchaço embaixo do queixo ou da mandíbula.
Para se estabelecer o diagnóstico, o profissional de saúde deve avaliar a história médica do paciente e realizar um exame físico minucioso, além de alguns exames complementares. Retirar um fragmento de tecido das lesões suspeitas (biópsia) e encaminhar para um patologista é fundamental. A análise microscópica do tecido é necessária para a confirmação pelo patologista, que irá examinar o material coletado do paciente ao microscópio à procura de células malignas compatíveis com o diagnóstico. Para verificar a extensão do câncer, podem ser necessários alguns exames de imagem e laboratoriais, além de exames específicos, como a rinoscopia, a laringoscopia e a faringoscopia.
A maioria dos casos de câncer de cabeça e pescoço é chamada de carcinoma epidermoide, ou carcinoma de células escamosas (CEC). Essa informação é dada pelo patologista e é útil na decisão do tipo de tratamento. A localização do tumor primário (onde o tumor se iniciou) também é importante, já que o tratamento pode ser diferente. Os diferentes sítios primários foram citados na introdução deste texto.
A extensão da doença no momento do diagnóstico é um fator-chave para definir o prognóstico e determinar qual o melhor tratamento. O sistema de estadiamento comumente utilizado para os tumores de cabeça e pescoço é o sistema TNM (tumor linfonodo metástase). Esse sistema classifica os cânceres de acordo com o tamanho e a extensão do tumor primário (T), o envolvimento dos linfonodos regionais (N) e a presença ou ausência de metástases (M). Recentemente, incorporaram-se novos fatores prognósticos não anatômicos na classificação. Os tumores são classificados de acordo com os sistemas de estadiamento dos respectivos grupos: lábio e cavidade oral, faringe, laringe, cavidade nasal e seios paranasais e glândulas salivares. Em geral, os cânceres são classificados entre estádios 0 e IV, sendo os tumores iniciais classificados como estádios 0 e I.
O tratamento depende de uma série de fatores relacionados ao tumor (estadiamento, localização e tipo histológico) e ao paciente (idade e estado geral clínico).
Os pilares do tratamento do câncer de cabeça e pescoço são a cirurgia, a radioterapia, a quimioterapia, a terapia-alvo molecular e a combinação entre várias modalidades. É fundamental a integração entre o cirurgião de cabeça e pescoço, o oncologista e o radioterapeuta, a fim de se determinar a melhor opção terapêutica e evitar procedimentos desnecessários.
Importantes avanços ocorreram na última década, incluindo aperfeiçoamentos nas técnicas operatórias, avanços nas técnicas de radioterapia e diferentes estratégias de quimioterapia. Sempre que possível, segue-se o conceito de preservação de órgão, que permite ao paciente não apenas o controle da doença, mas também a manutenção de uma boa qualidade de vida e de interação social, familiar e profissional.
Além disso, os novos tratamentos permitem maior conforto e tolerabilidade ao paciente. A radioterapia de intensidade modulada (IMRT) é um desses marcos, capaz de prevenir a incidência de xerostomia tardia (boca seca), que sempre foi um dos eventos complicadores da radioterapia convencional. O advento da terapia de alvo molecular é outro avanço, uma vez que a droga passa a agir diretamente nas células tumorais, evitando os efeitos colaterais da quimioterapia.
O prognóstico dependerá da extensão da doença ao diagnóstico (estadiamento), das características biológicas do tumor e da presença de comorbidades, ou seja, de doenças associadas. O crescente aprimoramento das técnicas cirúrgicas, da radioterapia e da quimioterapia são fatores que aumentam a sobrevida e a qualidade de vida dos pacientes.
O conhecimento da biologia molecular dos tumores também trouxe ganhos, uma vez que hoje dispomos de terapias-alvo, com medicamentos inteligentes, direcionadas contra o tumor, que poupam os pacientes dos efeitos adversos da quimioterapia. Sempre que possível, busca-se o tratamento de preservação de órgãos.
A doença tem alto potencial de prevenção, visto sua relação intrínseca com o tabagismo e etilismo. Campanhas voltadas a reduzir o início dos hábitos de beber e fumar, principalmente entre jovens, são prioritárias e merecem forte apoio da população.
Os pacientes que foram tratados por causa de cânceres de cabeça e pescoço têm maior risco de desenvolver um segundo câncer, geralmente de cabeça e pescoço, esôfago e pulmão. Esse risco é maior nos pacientes que fumam e consomem álcool. Nesse sentido, os pacientes são estimulados a parar de fumar e de consumir álcool em excesso.
Para os tumores de orofaringe, acredita-se que a vacinação contra o HPV possa diminuir o risco de contrair a doença.
Segundo recomendações do INCA, é essencial manter uma boa higiene bucal, ter os dentes tratados e fazer uma consulta odontológica de controle a cada ano. Uma dieta saudável, rica em vegetais e frutas, é capaz de prevenir o câncer de cabeça e pescoço.
As evidências existentes não são adequadas para determinar se o rastreamento do câncer oral diminui a mortalidade da doença.
Fontes
1. Cancer Research UK home page (http://www.cancerresearchuk.org)
2. National Cancer Institute (NCI) home page (http://www.cancer.gov/)
3. Portal do Instituto Nacional de Câncer (INCA) (http://www2.inca.gov.br)
4. World Cancer Report 2014. Edited by Bernard W. Stewart and Christopher P. Wild. IARC, Lyon, 2014.