De modo geral, podemos dividir o útero em corpo e colo, sendo esta a parte mais distal (mais afastado do centro) do órgão. O câncer de colo do útero é o tumor maligno que acomete tal porção do órgão.
Os sintomas, em geral, são observados quando a doença já apresenta algum grau de avanço local: sangramento após coito e/ou dor durante as relações sexuais (dispareunia), sensação de peso no períneo e corrimento mucoso.
O diagnóstico é feito principalmente pelo exame físico (exame de toque), que deve, obrigatoriamente, ser confirmado pela biópsia da lesão. A visualização direta da lesão – histeroscopia – permite uma biópsia mais dirigida e, portanto, mais apurada. Também as imagens obtidas pela ressonância magnética e pela tomografia computadorizada fornecem informações importantes para definir o grau de avanço e o eventual comprometimento de outros órgãos pela doença, o que chamamos de “estadiamento”, permitindo melhor planejamento do tratamento.
O exame de Papanicolau é a colheita de material celular – citologia – do colo do útero, obtida por esfregaço. A recomendação atual é de que o exame deve começar nas mulheres a partir dos 24 anos, ser repetido um ano após e, caso ambos sejam negativos, ser repetido a cada 2 ou 3 anos. Essa periodicidade pode ser modificada, caso tenhamos outras condicionantes: mulheres com doenças que afetem o sistema imunológico (HIV, por exemplo), história familiar importante e lesões uterinas prévias.
Existem muitos tipos de HPV. No entanto, as “famílias virais” que mais preocupam pelo seu potencial de promover doenças são os tipos 6, 11, 16 e 18.
Os tipos de HPV que podem levar ao câncer de colo do útero são os subgrupos 16 e 18. Os subgrupos mencionados 6 e 8 são os que promovem o surgimento de verrugas genitais (condilomas).
É importante lembrar que cerca de 60% a 80% da população mundial sexualmente ativa tem ou terá contato com o HPV. Na maioria, o próprio organismo se encarrega de eliminar a infecção. Numa fração desses casos, o HPV poderá levar ao desenvolvimento de lesões precursoras – que não são tumores malignos – e que poderão ser identificadas e tratadas por medidas locais, tais como retirada cirúrgica ou por radiofrequência. Ambos os procedimentos são ambulatoriais, desde que as lesões sejam identificadas pelas medidas de prevenção.
Somente uma minoria das mulheres com lesões precursoras desenvolverá o câncer de colo do útero. Esse processo – desde a ocorrência da infecção inicial até a neoplasia, passando pela fase das lesões precursoras – pode levar décadas. Ao longo desse período, estes fatores podem contribuir para tal desfecho: início precoce da atividade sexual, multiplicidade de parceiros, tabagismo, síndromes de imunodeficiência e outras infecções sexualmente transmissíveis.
O tratamento depende do estadiamento da doença. Assim, quando a enfermidade se encontra em fase inicial, a cirurgia pode ser empregada, podendo ser ou não complementada pela radio e pela quimioterapia. Em casos em que a doença apresenta-se com maior gravidade, porém limitada ao colo do útero, é realizado o tratamento concomitante de radio e quimioterapia, que permitirá, posteriormente, a realização da cirurgia curativa. Em casos mais avançados, a associação de radio e quimioterapia poderá oferecer bom controle da doença. Se a enfermidade já não estiver limitada à pelve, e mesmo quando já comprometeu órgãos a distância, como o pulmão, por exemplo, estadio IV, a quimioterapia terá a função de tentar conter a doença e oferecer melhora sintomática.
Em primeiro lugar, o avanço da tecnologia dos equipamentos de radioterapia tem permitido mais eficácia nos resultados dos tratamentos combinados com quimioterapia, permitindo significativa redução no tamanho das lesões, redução dos efeitos colaterais e, em consequência, maior número de indicações cirúrgicas. Do ponto de vista da cirurgia, as chamadas “cirurgias minimamente invasivas”, tais como as cirurgias laparoscópicas, vêm sendo aperfeiçoadas continuamente, tornando-se mais seguras e eficazes. Nessa área, sobressai a cirurgia robótica que, no âmbito do tratamento dos tumores ginecológicos, tem um dos seus maiores empregos. Também hoje dispomos de mais drogas ativas para o tratamento sistêmico (quimioterapia) dessa neoplasia. Provavelmente, em curto e médio prazos, teremos o emprego de medicamentos imunobiológicos para o combate ao câncer do colo de útero.
Por tudo o que dissemos acima, isto é, pelas características biológicas para o desenvolvimento dessa doença, temos, ao longo de muitos anos, oportunidades de prevenção, desde que seja disponível o acesso ao diagnóstico das lesões precursoras e aos meios para seu tratamento e também para a detecção e o tratamento precoce das lesões iniciais.
Sim. Quando detectado em estadios iniciais, as taxas de cura se aproximam de 100%.
Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), a incidência anual do câncer de colo de útero chega a 17.500 novos casos. A taxa de mortalidade situa-se em torno de 8.000 óbitos por ano.